Um novo começo

"Já posso partir, que meus irmãos se despeçam de mim". Rabindranath Tagore
Às vezes me pego pensando em como é complicado sentir, ou deixar sentir. Por mais libertos que somos ou nos sentimos, percebo como é difícil, através de algumas situações inusitadas, nos mantermos neutros em relação ao novo. O novo sempre nos causa algum temor, por mais desejosos, por mais que tenhamos pedido o novo em nossas vidas.

Os sentimentos se misturam, se confundem e muitas vezes não conseguimos identificá-los. Daí, o coração se fecha e a cabeça começa a querer dar conta de uma questão que não lhe pertence. Começa o curto circuito emocional.

O resultado disso é sempre o mesmo: nos fechamos e não deixamos o novo entrar. E nos queixamos, como nos queixamos...! Que a vida nunca muda, que nada acontece, que Deus esqueceu-se de nós.

No entanto, não enxergamos que a vida não circula porque fechamos seu ciclo natural de nascimento e morte. É preciso matar, ou ao menos deixar morrer para que haja renascimento, para que um novo ciclo se abra, para que a grande e esperada transformação aconteça. Muitas vezes os problemas se tornam maiores do que nós. Pelo menos é assim que nos sentimos. No entanto, quando começamos a vislumbrar um fio de coragem, algo mágico começa a acontecer.

Entramos em sintonia com o Universo e a partir dessa abertura, que é interna, podemos começar a observar uma resposta mais generosa e compassiva desse mesmo Universo, que muitas vezes nos possibilita enxergar algo que estava bem à nossa frente, ou mesmo um aval para tomarmos atitudes que até então julgávamos impossíveis de serem tomadas.

Iniciamos a limpeza do terreno, porque somente com o terreno bem limpo podemos lançar as sementes para a construção de uma nova vida. Apesar da dor e do luto que vivemos, mais uma vez, precisamos nos abastecer de coragem e determinação para enfrentar aquilo que pode ser o final de um ciclo e o despertar de outro. Sim, por que a natureza não gosta de espaços vazios.
Quando limpamos o terreno, o Universo se encarrega de lançar ao menos a primeira semente, como que para nos dar alguma força e esperança. Essa semente pode vir através de uma nova idéia, de um anjo, de uma nova amizade, de um trabalho novo, um novo amor...

Como algumas pessoas costumam dizer: é preciso muita calma nessa hora. E, nesse momento cabe o trecho de uma maravilhosa oração de Tagore, filósofo indiano que diz: "Não me deixe rezar por proteção contra os perigos, mas pelo destemor em enfrentá-los". É um momento de incertezas e certamente sentimos medo, muito medo. Mas ele não pode e não deve nos paralisar.

Costumo salientar a importância da entrega, da confiança e da fé na vida e no Universo, e este é um momento especialmente adequado para exercitarmos nossa entrega e fé. Esses são momentos que devemos nos acautelar da impulsividade e nos reservar o direito de ficarmos sós. Um mantra pode nos acompanhar, e deve ser repetido incansavelmente:

"Entrego-me a Deus, haja o que houver, e assim encontro a paz". Repita por várias vezes, até sentir que sua vontade está unida à Vontade de Deus e do Universo, e que a vontade de Deus é a tua libertação e tua paz.

A sensação é de partida, de que estamos deixando para trás algo que não faz mais sentido. Trancamos a porta, devolvemos as chaves e partimos para uma nova viagem, agora mais amadurecidos, mais machucados é bem verdade, mas mais sensíveis e seguros, com a certeza de que não morremos apesar de tudo, sobrevivemos, nos fortalecemos e choramos.

Choramos muito a dor do luto, dos sonhos que não passaram de sonhos, a dor por algo que estamos deixando para trás com esperança e a certeza de que a vida continua, e de que Deus com seu manto de bondade e compaixão nos espera bem ali adiante, na forma de um novo começo.

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